Quase 50 mil crianças que vivem no nordeste da Nigéria, a região onde o grupo jihadista Boko Haram operou nos últimos anos, correm risco de morrer no próximos 12 meses devido à desnutrição avançada, alertou nesta sexta-feira (16) o responsável de nutrição do Unicef neste país, Arjan de Wagt.
Após a recuperação do acesso a zonas que tinham sido tomadas pelo grupo terrorista, a partir de abril, descobriu-se que o nordeste da Nigéria sofre uma crise humanitária mais grave do que se imaginava.
Uma ofensiva do Exército obrigou nos últimos meses as forças do Boko Haram a se retirarem mais ao norte, onde estima-se que haja 2 milhões de pessoas que seguem fora do alcance das organizações de ajuda.
“Ao norte de Borno ainda há muitos distritos que são completamente inacessíveis para nós”, indicou o representante do organização de proteção infantil.
Segundo De Wagt, as novas avaliações revelaram que pelo menos 244 mil crianças estão em condição de desnutrição grave unicamente no estado de Borno, e “uma quinta parte delas foi achada literalmente à beira da morte”.
Para superar esse estado, os menores necessitam ser nutridos em primeira instância com alimentos terapêuticos.
Nos três estados do norte da Nigéria, a ONU calcula que 4,4 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária urgente e que cerca de 55 mil pessoas adicionais estão em “condições similares à crise de fome”, disse o representante do Unicef.
“O nível de sofrimento e desnutrição nesses lugares é extremamente alto, com 12% de desnutrição severa, que é algo que normalmente não se vê e ressalta a gravidade do que está ocorrendo no local”, declarou De Wagt por telefone desde Abuja.
O representante sustentou que, em seus 20 anos de experiência em contextos similares, a última crise comparável foi a ocorrida na Somália em 2011.
De Wagt sustentou que outra prática comum dos membros da organização terrorista foi a de confiscar os alimentos da população, que com a passagem dos anos foi esgotando suas reservas, incluídos os animais que criavam.
“Não há cultivos e todos dependem da ajuda humanitária, pelo menos até o final da próxima colheita, que será em outubro do próximo ano”, disse o especialista em nutrição.
Sobre o número de crianças que podem ter morrido até agora pela desnutrição, o Unicefconsidera que é impossível fazer um cálculo sério porque muitos morreram em suas casas e não há registros.
Considera-se que uma avaliação realista só pode ser feita com visitas casa por casa, para as quais foram contratados 1,5 mil colaboradores que ao mesmo tempo informarão às famílias da existência dos programas nutricionais do Unicef.
O grande problema para cumprir com as metas é o pouco financiamento dos programas do organização na Nigéria, lamentou De Wagt.
G1