Os últimos acontecimentos na política e na economia rasgaram uma cortina: a da irracionalidade humana em crises de fisiologismo. Quero me apresentar para quem ainda não me conhece: “sou um cidadão sexagenário, que nunca teve partido político e sempre foi adepto a projetos”. Não vejo a política como um fim, e sim como um meio de melhorar a vida das pessoas. Acontece que essa ordem foi invertida pelos maus políticos, e hoje a política se transformou em um fim em si mesmo.
Estranho, mas sou daqueles que são a favor de um governante até ele chegar ao poder. Chegando lá, vê se me esquece. Não conte mais com a minha benevolência. Isso porque raciocino assim: o fato de o seu antecessor ter sido corrupto, ineficiente e ineficaz, não lhe dá o direito de cometer deslizes, sejam lá de que envergadura for, afinal, não quero ser cúmplice assumido de atos que possam acarretar prejuízos a uma camada da sociedade, pois todos sabem que, na atual lógica do pensamento político, somente uma parte é prejudicada, e isso não é mi mi mi, ultimo termo de modismo tão utilizado por todos nós.
Vamos nos ater à PEC. Primeiro, seria interessante que todos se compenetrassem no texto da proposta e não baseassem o seu entendimento em sites fisiológicos, dependentes e unilaterais que desfilam aos montes pelas redes sociais. A criatividade é grande. O pior é que conseguem adesões. Movimentos intencionais têm conseguido os seus propósitos. Não sejamos “vacas de presépios” nem “papagaios de pirata”. Eu e você temos condições de ter as nossas opiniões independentes. Não precisamos de certas ajudas suspeitas.
Ratifico que o atual governo está cheio de boas intenções. Resta saber a quem essas intenções vai prejudicar mais. Sabemos que benefícios virão e para quem vão esses benefícios.
Sabe, sou do tempo da “vitrola” que tocava um disco de vinil, e que por estarem com arranhões, repetia incansavelmente um trecho da música até que fôssemos lá e déssemos um leve empurrão com o dedo indicador para pular de verso. Algumas pessoas das redes sociais parecem que ainda usam vitrolas e discos de vinil. Batem na mesma tecla como se os erros do passado servissem de justificativas para arbitrariedades do presente. Sempre fui de uma determinada classe econômica e social, com algumas boas alterações no decorrer da vida, fruto da minha perseverança. Nessa caminhada sempre me pediram para arroxar o nó do sacrifício.
Você, com certeza, também foi chamado a aderir ao aperto. Nunca vi sacrifícios para os abastados, que em alguns casos têm a origem de suas riquezas na falcatrua e no mal feito. O empresário capitalista, se a coisa apertar ele demite, pois não aceita diminuir a sua margem de lucro. Ele prefere demitir a rachar a conta. Foi sempre assim. E agora está sendo.
E com essa PEC a estória se repete. Dizer que não vai haver cortes nas áreas que mais sofrem – saúde e educação – é uma mentira deslavada que já teve sua máscara rasgada por quem entende muito do assunto. Não adianta tripudiar diante do cenário que vislumbramos até o ano 2036. A redução é transparente e exposta, a não ser que queiramos continuar numa cegueira ideológica que parece hipnotizar. Tem pesquisas de órgão fidedignas de que o prejuízo para o setor da saúde beira aos 433 bilhões ao longo dos vinte anos, se essa ideia estapafúrdia for aprovada por esse Legislativo manchado pelos acordos espúrios. Outro detalhe que pode passar despercebido. A PEC não contempla o congelamento da utilização do superávit primeiro, e com isso o governo não toca nem de longe no pagamento da dívida pública. Quem leu o texto da PEC com atenção e sem paixões, percebeu que o setor financeiro credor do Estado, não sofreu abalos sísmicos com a proposta do Governo, a exemplo das áreas sociais, que sofreram restrições com o congelamento vintenário, sem dúvida.
Temos uma constatação. Os últimos governos federais desmantelaram o País, ponto! Precisamos de reformas, ponto! Agora por favor, não vamos soltar fogos porque recente decisão do governo decidiu baixar R$ 0,05 centavos no litro de gasolina. Isso só para exemplificar.
Quando abro essa discussão, tenho a consciência de que estou contribuindo para a polarização de opiniões. Quando opino sobre determinado tema não quero defender ferrenhamente as minhas convicções, ao ponto de tratar com desrespeito o meu interlocutor. Nada disso, gosto de quem diverge, não simpatizo muito com quem quer “briga”. O alto nível deveria ser a tônica da comunicação, principalmente em temas como política, religião e futebol.
Leia o texto da PEC. Projete os resultados pelos vinte anos propostos. Se mesmo assim achar que a proposta é boa, aí precisaremos ler mais vezes e buscar ampliar os horizontes da sensibilidade. Não vamos defender posições porque os “doutores do nada” assim defendem. Autocrítica é um exercício a ser praticado sempre.
Tenho uma proposta: vamos discutir os assuntos da sociedade esquecendo os partidos políticos e suas ideologias proselitistas e fisiológicas? Independente de partido, vamos apoiar ou “meter o pau”, quando concordarmos ou discordarmos de algo. Quem sabe não chegaremos a bom termo! Estamos na era da tecnologia. Vamos guardar nossas vitrolas e discos de vinil como relíquias de boas recordações.
Agora vamos ler a PEC. Imprimam o texto, sublinhe os pontos que achar importantes, projete cenários e esqueças a desavenças provocadas por visões arraigadas e tabus imutáveis. Não dê bola para sites tendenciosos. Vamos abrir a discussão sem posicionamentos prosaicos, afinal, poesia é muito lindo e importante, mas em certas realidades não cabe. Só um detalhe: o setor empresarial está soltando fogos e brindando com champanhe francês. É a velha estória: “enquanto uns choram, outros vendem lenços”.