SÃO PAULO – Ao justificar a prisão de Aldemir Bendine e outros operadores financeiros nesta quinta-feira, na 42ª fase da Operação Lava-Jato, o procurador da República Athayde Ribeiro Costa disse que “é incrível topar com evidências de que, após a Lava Jato já estar em estágio avançado, os criminosos tiveram a audácia de prosseguir despojando a Petrobras e a sociedade brasileira”. Segundo o MPF, Bendine e os operadores financeiros, André Gustavo Vieira da Silva e Antônio Carlos Vieira da Silva Jr, presos na operação de hoje, solicitaram propina em 2015 – após várias operações da Lava-Jato já terem sido realizadas.
“Os crimes recentes são a prova viva de que a prisão é necessária para frear o ímpeto criminoso de um esquema que vem desviando bilhões há mais de década”, salientou o procurador em nota do MPF divulgada esta quinta-feira. O esquema da operação de hoje será detalhado em coletiva de imprensa realizada em Curitiba às 10h.
O advogado de Bendine, Pierpaolo Cruz Bottini, declarou ser “desnecessária” a prisão temporária do cliente pela colaboração do ex-executivo com as investigações. O executivo foi encontrado em sua casa, no município de Sorocaba-SP.
“Desde o início das investigações Bendine se colocou à disposição para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a regularidade de suas atividades. A cautelar é desnecessária. É arbitrário prender para depoimento alguém que manifestou sua disposição de colaborar com a justiça desde o início”, alegou.
Os operadores financeiros são sócios da empresa de publicidade Arcos. Segundo o G1, Antônio Carlos foi preso no Recife e André Gustavo no Aeroporto Internacional Gilberto Freyre, também na capital pernambucana. Ao site, o advogado dos dois, Ademar Rigueira, afirmou que André embarcava para a capital federal, onde reside.
De acordo com o MPF, os publicitários são suspeitos de viabilizarem R$ 3 milhões em propinas pagas pela Odebrecht em favor do ex-presidente da Petrobras. A ação desta manhã, segundo o órgão, foi feita com base nas delações dos executivos da empreiteira. Batizada de Cobra, a operação fez referência ao codinome de Bendine na planilha do Setor de Operações Estruturadas da empresa.
Bendine esteve à frente do Banco do Brasil entre 17 de abril de 2009 e 6 de fevereiro de 2015 e foi presidente da Petrobras entre 6 de fevereiro de 2015 e 30 de maio de 2016. O MPF alega ter evidências de um pedido de propina no valor de R$ 17 milhões, feito por Bendine enquanto presidente do Banco do Brasil, para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial.
Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, em delação, teriam negado o pedido de solicitação de propina porque entenderam que o executivo não tinha capacidade de influenciar no contrato de financiamento do Banco do Brasil.
O MPF também afirmou ter provas apontando que, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, em fevereiro de 2015, Bendine e um dos operadores financeiros solicitaram propina novamente a Odebrecht e Reis. O pedido teria sido feito para que o grupo empresarial não fosse prejudicado na Petrobras, inclusive em relação às consequências da Lava-Jato. A empresa teria concordado em pagar a proprina de R$ 3 milhões em espécie, dividida em três remessas de R$ 1 milhão cada. Os pagamentos foram realizados em São Paulo pelo Setor de Operações Estruturadas da empresa em 17 de junho, 24 de junho e 1º de julho de 2015.
Em 2017, um dos operadores confirmou ter recebido R$ 3 milhões da Odebrecht, mas tentou atribuir o pagamento a uma suposta consultoria que teria prestado à empreiteira para facilitar o financiamento junto ao Banco do Brasil. A investigação, segundo os procuradores, revelou que a empresa utilizada pelo operador financeiro era de fachada. Nenhum material relativo à consultoria foi apresentado e nem foi explicado o destino de valores, a forma oculta do recebimento, a ausência de contrato escrito para serviços milionários e o motivo da diminuição do valor de cobrança dos serviços – que passaram, conforme o operador, de R$ 17 milhões para R$ 3 milhões.
O MPF alega que, para evitar problemas com as investigações, o operador teria efetado o recolhimento dos tributos relacionados à suposta consultoria, cerca de dois anos após os pagamentos, com o objetivo de dissimular a origem dos valores. Os procuradores alegam terem encontrado indícios de que a documentação também foi produzida com intuito de ludibriar e obstruir as investigações.
As investigações analisaram ligações telefônicas, identificação junto a hotéis para reuniões secretas, análise de cartões de crédito, encontros em restaurantes e comunicação por aplicativos de celular. Também foram investigadas anotações que sugerem, segundo o MPF, pagamentos de despesas de hospedagem em favor de familiares de Al
“Há quem fale que as investigações contra a corrupção têm que acabar, mas casos como esse deixam claro que os criminosos não vão parar. Pregar o fim da Lava Jato é defender a liberdade para os ladrões do dinheiro público prosseguirem. Se queremos um Brasil com menos corrupção, é preciso ir até onde eles foram e estão dispostos a ir”, disse a procuradora da República Jerusa Burmann Viecili em nota.
O coordenador da Força-Tarefa da Lava-Jato, Deltan Dellagnol, aproveitou a operação de hoje para dizer que “preocupa a todos nós o arrefecimento do investimento na Lava Jato pela direção da Polícia Federal”.
“Das últimas sete operações da Lava Jato, seis foram pedidas pelo Ministério Público. É preciso preservar o trabalho da Polícia Federal nas investigações. O Ministro da Justiça e o Delegado-Geral têm poder e a consequente responsabilidade sobre o tamanho do efetivo, que foi reduzido para menos de metade”, completou.
Fonte: O Globo