Apesar dos percalços, seguimos “tocando em frente”, pois o olhar através do retrovisor não interessa a ninguém. “Nunca na estória desse País”, vivenciamos tantos paradoxos como nos tempos atuais.
Brasileiro é assim mesmo. Já não conseguimos considerar uma tragédia grega certos aspectos nebulosos do cotidiano e por vezes somos acometidos pela “Síndrome de Estocolmo”, onde criamos uma empatia com o malfeitor, aplacando as perversidades transparentes vistas sem lentes microscópicas.
Brasileiro é assim mesmo. Com as expectativas de quem ainda não conhece certo lugar, fui ao Rio de Janeiro, onde passei os últimos quinze dias. Ao chegar à cidade maravilhosa, cuja denominação perdeu um pouco do brilho, mormente a situação de caos implantada pela má gestão política dos últimos governantes. Ah! Mas a beleza natural, isso é património perene e nunca acaba apesar de fazerem tudo para tal.
Brasileiro é assim mesmo, consegue viver harmonicamente com o sagrado e com o profano. Nas minhas “passeanças” pelo centro do Rio de Janeiro, parei em cada esquina e retroagi aos idos dos anos 60. Procurei em uma rua, chamada Regente Feijó, e de repente estava eu lá, perfilado em frente à portaria do prédio onde hoje funciona a Universidade Mackenzie, outrora a Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas Moraes Junior, local de onde saí bacharel em ciências contábeis, na década de 70. Segui descendo as ruas do SAARA (área de comércio intenso do centro do Rio), chegando ao Largo da carioca. No local me deparei com uma “agente de propaganda” distribuindo “santinhos” de apelos pornográficos”. Na outra esquina, uma turma de jovens estudantes de Direito, faziam uma coreografia e proferiam um grito de guerra de pouco entendimento para os meus padrões cognitivos e ouvidos calejados e acostumados com outra linguagem. Mas, a interpretar pela felicidade estampada nos lindos rostos daqueles jovens, cheguei a entender tratar-se de um momento onde a felicidade se justificava para aqueles jovens acadêmicos.
Segui alguns passos, no mesmo local, porém a uns cinquenta metros, lá estava outro grupo de jovens religiosos cantando e louvando, através de gostosas melodias tocadas e cantadas com uma leveza tal que me arrancaram algumas lágrimas emocionais, tão frouxo que sou para com essas cenas de bondade e amor. Infelizmente o mundo está robusto de truculências, arrogâncias e destemperos. Em um momento, uma jovem se aproximou de mim, pôs a mão no meu ombro e me embalou no ritmo gostoso da melodia e dança. Olha eu ali, no centro do Rio, participando de um evento de fé! Muito gratificante. Ganhei o dia. Como se não bastasse, a jovem me fez um convide a adentrar certa tenda, onde lá se encontravam jovens orando e meditando, juntamente com alguns transeuntes, a exemplo de mim. A jovem perguntou se poderia orar por mim, o que acenei positivamente. Então ela começou a proferir palavras incompreensíveis, mas que irradiaram uma energia positiva indescritível. Saí do local leve como se surfasse nas nuvens celestiais.
Brasileiro é assim, toca em frente esperando sempre o melhor. Assim está acontecendo com o atual momento político. Numa situação de normalidade patológica aproveitaríamos o momento propício e começaríamos a limpar as feridas da podridão corrupta que acometeu a nossa Nação. Usando de armas ocultas e golpistas para algumas, e de remédios constitucionais para outros, a verdade é que todos se enlameiam nos lagos corruptos e podres de uma sociedade sonolenta e sem rumo, que não se dobra à realidade dos fatos, preferindo ficar com suas convicções ideológicas, na maioria das vezes sem nenhum embasamento histórico, apenas se agarrando a correntes ideológicas que se alternam ao longo dos séculos, implantando a miséria e a fome, em favor do fisiologismo e defesa do capital financeiro devastador do progresso como já comprovado ao longo da nossa história.
Brasileiro é assim mesmo. Aceitou numa boa a divisão do mundo em dois sistemas que dominam o mundo: capitalismo x socialismo, aceitando a crença de que não temos outro caminho a seguir: uns querem a riqueza na mão de poucos e outros querem a divisão da riqueza com todos, mesmo com aqueles que não contribuem para a formação do bolo econômico.
Já está mais do que comprovado que os dois sistemas são perversos. Ambos têm embasamentos e argumentos até aceitáveis do ponto de vista programático, mas ambos esbarram na ganância e na falta de humanidade reinante, onde a divisão correta guarda correlação com a música do saudoso Luís Gonzaga, que num refrão defende: “ um pra mim, um pra tú, um pra mim, outro pra mim”.
Brasileiro é assim mesmo. Espera para 2018 e aceita tratar o “câncer” utilizando a toxina da corrupção, mesmo sabendo que a morte é inevitável, não cede para alternativas porque aí seria humilhação demais: ter as suas convicções invadidas nem pensar. Melhor deixar assim mesmo e em 2018 acertamos tudo. Será possível ou estamos nos enganado mais uma vez. Fico com a última probabilidade, isso porque brasileiro é assim mesmo. Estamos acostumados à “Síndrome de Estocolmo”.
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