Instrutor de dança, de 33 anos, está detido com fiança estipulada em US$ 500 mil por crimes de estupro e molestamento de menores (Caso ocorreu em Washington, nos Estados Unidos – (crédito: Reprodução)
O brasileiro Leonardo Ferreira Gomes, de 33 anos, está preso no Condado de King, em Washington, nos Estados Unidos, acusado de estupro de criança e molestamento infantil em primeiro grau — segundo boletim de ocorrência obtido pelo Correio. Os crimes foram cometidos contra dois irmãos de 10 e 11 anos.
Segundo a promotoria de Justiça do Condado de King, Leonardo aproveitou-se da confiança de uma família local que o acolheu após a morte do pai das vítimas, há oito anos — para abusar sexualmente das crianças. De acordo com as informações, o crime teria começado a ocorrer no começo de 2024.
Durante as investigações do caso, as vítimas descreveram os abusos com detalhes. Um terceiro irmão mais novo também relatou toques inapropriados, mas não conseguiu fornecer mais informações.
Investigação
A ligação com “Leo” apelido no qual é conhecido —, começou há dois anos, quando uma também instrutora de dança, ex-companheira de Gomes, ficou próxima da família e foi morar com a mãe das crianças e os quatro filhos da mulher.
Em depoimento à promotoria, a mãe das crianças relatou que o acusado visitava a casa regularmente e era a representação de uma figura masculina, além de se dar bem com os garotos, e participar de momentos íntimos da família de maneira “intrometida”, como festas do pijama — ocasiões em que, segundo os relatos, ele teria cometido os abusos.
A promotora Leesa Manion pediu fiança de US$ 500 mil, alegando que Gomes representa “risco grave” para a comunidade, especialmente para crianças. O réu, que trabalha como instrutor de dança profissional, não tem residência fixa em Washington e pode tentar fugir — seu último endereço conhecido é em San Rafael, na Califórnia.
Além da fiança, o Estado solicitou uma ordem de proteção para as vítimas, entrega de armas de fogo (se houver), proibição total de contato com menores, incluindo seu próprio filho de 6 anos.
O Correio tenta buscar o possível advogado de Leonardo para abrir espaço de resposta. Em caso de manifestação, o texto será atualizado. A reportagem também contactou o Itamaraty e a ex-mulher do suspeito, mas não obteve retorno de nenhuma das partes até a publicação desta matéria.
O caso segue sob investigação das autoridades norte-americanas.
Entendendo detalhes da pena
De acordo com o professor de direito internacional da Unicamp e da PUC de Campinas Luís Renato Vedovato, mesmo em casos de crimes graves, como estupro de menor, existe a possibilidade de o juiz fixar uma fiança para que o acusado responda ao processo em liberdade. “Normalmente, essa condição é avaliada com base em fatores como domicílio fixo nos Estados Unidos, vínculo empregatício e a gravidade do crime. Caso a fiança seja determinada e paga, o réu pode aguardar o julgamento fora da prisão”, explica.
Ainda segundo ele, é comum que a justiça norte-americana ofereça ao réu um acordo conhecido como “plea bargain”. Por meio desse mecanismo, o acusado pode optar por aceitar uma pena negociada — que pode variar de décadas de prisão (pena mínima de 30 anos) até prisão perpétua ou, em estados que preveem, a pena de morte — para evitar o julgamento. “Se ele aceitar essa opção, já vai diretamente para o cumprimento da pena. Se não aceitar, ele permanece preso enquanto responde ao processo”, detalha.
O advogado Henrique Scliar, especialista em direito internacional e imigração, ressalta que qualquer brasileiro que cometa um crime nos Estados Unidos — mesmo que esteja só de passagem — estará sujeito integralmente à legislação local, independentemente de status migratório ou vínculo com o país.
Segundo ele, o réu tem direito a um advogado de defesa durante todo o processo, garantia prevista na lei americana, mesmo que o acusado esteja em situação migratória irregular. No entanto, mesmo após o cumprimento da pena ou em caso de absolvição, a pessoa pode ser deportada ou considerada inadmissível para futuras entradas nos Estados Unidos, dependendo da gravidade da infração.
“Se o brasileiro decidir fugir antes do julgamento e voltar ao Brasil, o caso não se encerra. O governo brasileiro não extradita seus cidadãos, salvo em situações muito específicas, mas os EUA podem pedir a cooperação jurídica internacional e o processo pode ser reaberto”, completa.