Acareação no STF expõe divergências entre ex-ajudante de ordens e general; audiência teve participação de Moraes, Fux e Gonet, mas não foi gravada
Em acareação realizada no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (24), o tenente-coronel Mauro Cid manteve a versão de que recebeu uma quantia em dinheiro vivo entregue pelo general da reserva Braga Netto, em uma caixa de vinho fechada. A informação é da GloboNews, que ouviu as defesas dos envolvidos logo após a sessão, conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes.
Segundo os advogados de Cid, o militar afirmou que, no momento da entrega, Braga Netto teria dito: “Esse é o dinheiro que você havia me pedido anteriormente”. O encontro entre os dois teria ocorrido nas dependências do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República.
Ainda de acordo com a versão do delator, a caixa ficou temporariamente embaixo de sua mesa na sala da ajudância de ordens e, posteriormente, foi entregue ao major Rafael Martins de Oliveira, um dos militares identificados como integrantes do grupo apelidado de “kids pretos”, investigados no caso da tentativa de golpe.
Defesa de Braga Netto diz que general chamou Cid de mentiroso
A defesa de Braga Netto, por outro lado, negou de forma veemente as declarações de Cid. O advogado José Luis de Oliveira, conhecido como Juca, afirmou que o tenente-coronel “mentiu” durante a audiência. “O general Braga Netto chamou de mentiroso em duas oportunidades o senhor Mauro Cid, que permaneceu durante todo o ato com a cabeça baixa. Ele não retrucou quando teve a oportunidade de falar”, disse o advogado ao deixar o STF. Para ele, o comportamento de Cid foi “constrangido” e “incoerente”.
Já a advogada Vânia Bitencourt, que atua na defesa de Mauro Cid ao lado de César Bitencourt e Jair Alves Pereira, rebateu as críticas: “Cid não se contradisse, manteve as mesmas versões. Foram só dois pontos controvertidos. Se ele viu o Cid de cabeça baixa, eu não vi, e eu estava do lado dele”, afirmou.
Os advogados de Cid informaram ainda que irão solicitar ao Supremo as imagens das câmeras de segurança do Alvorada e os registros de entrada e saída no local, para comprovar os relatos de seu cliente.
Outro ponto de divergência entre os depoentes envolve uma reunião realizada no fim de 2022 na residência de Braga Netto. Cid afirmou ter deixado o encontro antes do término, enquanto o general relatou que os três militares presentes — Cid e dois membros das Forças Especiais — teriam saído juntos. Segundo a Polícia Federal, esse encontro serviu para discutir a viabilidade de um plano golpista destinado a impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com os investigadores, foi nesse momento que se definiu a necessidade de levantar o dinheiro, que mais tarde teria sido entregue a Cid.
A audiência durou cerca de duas horas e terminou pouco depois do meio-dia. Além do ministro Alexandre de Moraes, participaram da acareação o ministro Luiz Fux e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. As sessões não são gravadas, por decisão do STF.
Na sequência, está prevista nova acareação: o ex-ministro Anderson Torres será confrontado com o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes. Tanto as defesas de Torres quanto a de Braga Netto solicitaram as acareações, com o objetivo de esclarecer contradições entre os relatos dos réus e de testemunhas no inquérito que apura a tentativa de golpe após as eleições de 2022.