Ao aceitar o filho de Tite como membro da comissão técnica da seleção brasileira, a CBF contraria a proposta de seu próprio Código de Ética, recém formulado. Matheus Bacchi tem 28 anos e foi anunciado como auxiliar do treinador, mas, de acordo com o documento, disponível no site oficial da entidade, parentes de funcionários não podem ser contratados.
Matheus foi admitido a pedido do ex-comandante do Corinthians, onde trabalhavam anteriormente. A decisão foi tomada pelo presidente Marco Polo Del Nero.
O dispositivo consta do capítulo 3 que trata de “Princípios gerais de ética relacionados a vantagens indevidas”, que tem uma lista de “conflitos de interesse”. A proibição de se contratar parentes está expressa no item 10:
“10. Contratar parentes como seus funcionários, em qualquer modalidade. Essa restrição se aplica também a quaisquer indivíduos com relações de parentesco de segundo grau com outros gestores e executivos da CBF e seus conselhos e comissões. No caso de contratação de parentes de patrocinadores, franqueados, investidores da CBF ou de outros órgãos gestores e normativos do futebol, mesmo que sempre fortemente desaconselhada, é permitida desde que exista aprovação institucional da CBF e, sem exceção, da parte externa potencialmente afetada pelo conflito de interesse.”
Logo na sua introdução, inclusive, o Código de Ética da CBF deixa claro que todos os funcionários da entidade devem seguir a ordem de não contratar parantes.
“1. Este Código contém as regras gerais de conduta ética a serem cumpridas e deverá ser observado pelos membros da Assembleia Geral, Presidente, Secretário-Geral, membros do Conselho Fiscal, Diretores, funcionários em quaisquer níveis hierárquicos, contratados, federações, clubes e quaisquer entidades que se relacionem ao futebol (“Pessoas Vinculadas”), prevalecendo sobre, e servindo de diretriz para, todas as políticas e normas da entidade.”
Segundo o próprio texto, quem infringir as regras está sujeito às “sanções que estabelece este Código”. A menor delas é a advertência, mas também são previstas suspensão e demissão, até as mais graves que são “proibição de participar de atividades relacionadas ao futebol” e prestação de “trabalho comunitário”.
A CBF e Tite foram procurados pela reportagem, mas ainda não retornaram.
O outro auxiliar técnico de Tite na CBF é Cléber Xavier, que já ocupava a função no ex-clube. Edu Gaspar também foi contratado junto de Tite, para ser o seu coordenador. Na coletiva de apresentação, o treinador disse que a admissão de Edu foi “uma iniciativa dele”, referindo-se a Marco Polo Del Nero.
O Código de Ética faz parte do pacote de “boas práticas” que a CBF afirma estar fazendo. O documento, assim como o novo Estatuto, foram elaborados pelo Comitê de Reformas, formado este ano. Fazem parte do grupo de discussão dirigentes, advogados da justiça desportiva, dirigentes e ex-jogadores.
Na página em que os documentos estão disponíveis, a CBF informa que os conteúdos ainda estão em discussão e que “o público em geral” pode fazer comentários e propostas a respeito dos temas.
180 Graus