No cenário da corrupção surge um elemento mais jocoso e repugnante do que o corrupto: o corruptor. Esse ser abominável tirou a máscara fora e a jogou longe do alcance de todos. Mesmo assim sentimos o gosto amargo do fel patrocinado, com a sua arrogância e desprezo pela presa fácil, se bem que essa merece o desdém.
Outro dia tivemos acesso a uma excelente matéria do Juiz Sergio Moro, onde ele explanava sobre a trajetória que percorre um corrupto até chegar ao nível da generalização que nos acometeu. Na teoria do magistrado, os corruptos, em sua essência, vão consolidando a sua marca através de doses homeopáticas de desvios de conduta ética. No trabalho, usam a “xerox” para copiar documentos particulares. Isso lhe parece normal e aí caminham para coisas maiores; filam nas provas, checando o conteúdo ao lado, mesmo sabendo que essa atitude não é correta; ao receberem um troco maior, hesitam em devolvê-lo. Tudo isso parece simplório, mas é ingrediente imprescindível na formação de um caráter corrupto. Ressalvar que alguns ficam nos pequenos furtos, outros tomam gosto e seguem na caminhada em busca de algo pomposo. Tudo vai sendo minimizado e quando acordam já são corruptos em potencial, e aí não interessa retroceder. O que pode conseguir em frente é um objeto valioso.
Nunca demos muita importância ao comprador de “bananas” humanas, mas ele é tentacular. Ramifica-se como a abobreira dos campos agrícolas. Assemelha-se a um polvo, que com seus tentáculos busca a sobrevivência.
O volume de recursos financeiros somente tratados no âmbito virtual das bolsas de valores agora se apresenta como uma coisa corriqueira e banal, que podemos encontrar nas malas, maletas, caixas de papelão, cuecas, meias, gavetas e bancos estrangeiros em paraísos fiscais. Às vezes fazendo a conversão em joias, sítios, tríplex, carne moída, cartões de crédito, etc… Nesse cenário tenebroso agora temos dois grupos de vítimas da corrupção sistêmica: o corrupto e o povo. O primeiro, usufrutuário de valores ínfimos, se compararmos ao volume que conseguem os corruptores, e o segundo, reais vítimas desses crimes, que bem poderiam ser tipificados como hediondos, diante das atrocidades que impõem.
Precisamos pesquisar a origem de tudo. Quem é o pai da corrupção? O corrupto ou o corruptor? Ah! Isso não importa muito. Se um é o pai o outro é a mãe, com certeza. Tudo começou e não teve mais fim, só progresso. A ganância degradou a humanidade, ávida pela ostentação e conforto individual. Para esses, os fins justificam os meios e aí o inferno é o limite.
A capacidade dessas criaturas corruptas e tão grande que conseguem, mesmo cometendo atrocidades, alguns simpatizantes que relegam a segundo plano as máculas corruptas de um político “bem intencionado” na sua concepção. Chega-se até a aceitar a máximo de que “ruim com ele, pior sem ele”.
Efetivamente precisamos de uma reforma geral de conceitos. Não se concebe aceitarmos certas posturas corruptas sob o mantra da preservação da economia, quando os resultados não nos são destinados. Precisamos de um novo modelo. Para ser sincero, não sabemos por onde começar. Ninguém sabe, aliás. O que vemos por aí é um festival de pitacos, como se diz, “de economia, política e louco, todos nós entendemos um pouco”.