A pedagoga e criadora do Deficiente Ciente, Vera Garcia, 49, teve seu braço direito amputado aos 11 anos. Nada que a impedisse de desenvolver autoconfiança e, principalmente, que limitasse sua vida amorosa. Pois foi em um site voltado para relacionamentos maduros que ela conheceu o comerciante Hélio José de Faria, 61, seu atual marido–que nem sequer quis saber qual era a deficiência dela até o primeiro encontro. Uma história de amor inspiradora, cujo relato você lê abaixo.
“Aos 11 anos, sofri um acidente. Parte da minha casa caiu e precisei amputar o braço direito, pois deu gangrena. Todo mundo achava que eu ia ter mais dificuldade para namorar por ter perdido o braço, mas isso nunca aconteceu comigo.
É que desde sempre aprendi que precisamos gostar de nós mesmas do jeito que somos. O processo de me ver sem braço foi uma coisa louca, principalmente porque eu estava entrando na adolescência. Mas minha mãe sempre esteve lá, dizendo que eu tinha que aprender a viver daquele jeito e estar bem comigo mesma para não ter problemas. Aliás, minha mãe sempre me botou para cima e isso fez toda a diferença na minha vida, inclusive amorosa.
Comecei a namorar aos 17 anos, mas eram namoricos de três meses. Sempre com gente do bairro, então nunca precisei pensar nessa coisa do preconceito por ser deficiente. Acho que o preconceito já começa com a gente mesmo. Quando você se aceita, não passa para o outro medo e insegurança. Se eu falava com alguém online, a primeira coisa que contava era sobre minha deficiência para já quebrar qualquer tabu sobre isso.
Bem, foi passando o tempo, e eu não firmava com ninguém. Cheguei até a ficar um tempo com um cara que conheci na sala do Bate-Papo UOL. Ele era de São Paulo e eu de Campinas, e continuamos amigos após o término.
Não pensava em casar logo, até porque queria estudar e trabalhar, como professora e diretora. Mas segui um conselho da minha mãe. Como eu tinha costume de ficar com homens mais novos, ela sempre dizia que precisava namorar alguém mais velho, e resolvi buscar um site para relacionamentos maduros. Encontrei, então, o CoroaMetade.
Fiz o cadastro da forma mais sincera e clara possível e coloquei como observação: “tenho uma deficiência física”. Assim quem se interessasse em me conhecer, já saberia. Aí imagina: muitos entraram em contato só por curiosidade, já que não dava para ver direito pela foto que coloquei. Alguns até achavam que eu não tinha nada…
Eis que o Hélio apareceu. Não perguntou nada sobre minha deficiência, só veio conversar. Simplesmente mandou uma mensagem dizendo que tinha gostado do meu perfil e queria falar comigo. Começamos a trocar mensagens e, depois de uma semana, e-mails. Ficamos um mês conversando também por telefone até o primeiro encontro.
Que fique claro: até então ele nunca tinha perguntado nada sobre a minha deficiência! Fui eu quem perguntou se ele tinha lido que tinha escrito no perfil. Ele disse que sim, mas que gostou tanto de mim que nem levou isso em consideração.
Marcamos nosso primeiro encontro em um lugar público, um shopping, e na hora que ele chegou já sabia que ele era o cara, me apaixonei na hora! Tudo o que demonstrava nas conversas por telefone e e-mail era ele de verdade! Eu não fiquei nervosa por saber que ele, enfim, veria qual era minha deficiência, porque, como disse, eu tinha aprendido a lidar com isso havia muito tempo. E ele também não comentou nada.
Marcamos mais uns três encontros em shoppings. Até que ele veio para Campinas conhecer meus pais e ficamos namorando a distância. Ele vinha para Campinas e eu para Limeira, onde ele morava. Depois de um ano, resolvemos nos casar no civil.
Passei um tempo morando em Limeira, mas fiquei com muita saudade dos meus pais, então resolvemos mudar para Paulínia, que é perto das duas cidades. Morar junto nem sempre é fácil, já que todos temos nossas diferenças. Mas o legal é que nós aprendemos muito um com o outro.
Temos gostos parecidos, amamos viajar, e agora estamos construindo a nossa casa do jeitinho que a gente sonhou. O engraçado é que até nossos gostos para escolher as coisas da casa batem. Sempre trocamos ‘eu te amo’ e a nossa família está crescendo: já temos um cachorro e duas gatinhas.
Ele foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Em dezembro, faremos três anos de casados e pretendemos casar no religioso. Não sei se alma gêmea existe, mas tenho certeza que a gente ter se encontrado foi obra divina.”