Um componente indesejado no cenário da Praia de Copacabana está intrigando banhistas pelo menos desde o fim de semana: o acúmulo de algas na areia, que também está deixando a cor do mar mais escura. A situação foi registrada na manhã desta terça-feira (26) pelo fotógrafo Don Delmiro, entre os postos 5 e 6, onde frequentadores tentavam praticar esportes em meio à mancha preta e agentes da Comlurb faziam uma limpeza. De acordo com especialistas, o fenômeno é denominado de “algas arribadas”, ou arrancadas.
— Presenciei isso hoje cedo. Muita gente estava reclamando, e algumas pessoas estavam jogando frescobol em meio às algas. Outras estavam praticando stand-up paddle no mar com a água escura. Havia ainda quem estivesse tentando tomar banho de mar, mas meio com medo, porque não sabia se era alga mesmo ou esgoto. E isso é só em Copacabana. Andei pela orla de Leblon e Ipanema e não vi nada disso, e o mar estava clarinho — relata Delmiro. — Já faz alguns dias que estamos com essa maré.
Presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães diz que a situação está desanimando os banhistas.
— Já faz alguns dias que estamos com essa maré. Eu frequento o Posto 6, e percebo que o problema tem afastado os banhistas, pois alguns o associam à poluição — observa.
Mestre em biologia e professora de biologia marinha da pós-graduação da Faculdade Maria Thereza, em Niterói, Gisa Machado diz que o fenômeno é natural e, quando ocorre, contribui para a circulação de nutrientes no ecossistema marinho.
— Trata-se de macroalgas vermelhas, fenômeno oriundo do hidrodinamismo (movimento das águas), ou seja, ondas fortes, que, provavelmente, arrancaram essas algas dos costões das Ilhas Cagarras. Elas acabaram deslocadas e depositadas nas areias da praia. No Nordeste, é um fenômeno comum e frequente, chegando a formar tapetes de 20 centímetros de espessura, assim como no Espírito Santo. Aqui no Rio, em geral, ocorre nos períodos de ondas fortes — esclarece. — É um fenômeno mais comum no inverno, por conta das ressacas causadas pela entrada de frentes frias, mas, com essas mudanças bruscas do clima, as ressacas acabam se tornando mais frequentes ao longo do ano.
De acordo com a especialista, essas algas, por si só, não oferecem riscos aos banhistas.
— Os fenômenos que podem causar alguma forma de mal são as florações de microalgas, porque elas podem ajudar na proliferação de toxinas. A única questão das macroalgas, que é o caso de agora em Copacabana, é que elas carregam para a areia o lixo que flutua no mar, podendo incluir anzóis, lata, vidro ou qualquer outro material cortante e até animais marinhos dos costões que podem machucar, como ouriços. Por isso, precisam ser retiradas. Não fosse isso, elas já iniciariam o processo de decomposição em pouco tempo de exposição ao sol e, quando a maré subisse, seriam levadas de volta para o mar — pontua Gisa.
A Comlurb informa que está atuando diariamente, desde sexta-feira (22), na retirada de algas marinhas que estão chegando à Praia de Copacabana. A companhia informa que a equipe diária é formada por 20 garis por turno (manhã, tarde e noite), com apoio de uma pá carregadeira e um trator de remoção.
COM oGLOBO