As recentes manifestações antirracistas nos Estados Unidos produziram a
derrubada da estátua do general confederado Albert Pike, situada na Praça Judiciária, no
Distrito de Colúmbia, em Washington. A estátua foi arrancada do pedestal envolta em
correntes e, após caída ao chão, incendiada. A escultura de bronze foi obra do artista
italiano Gaetano Trentanove, que foi contratado pelo Supremo Conselho do Rito Escocês
Antigo e Aceito da Jurisdição Sul para este trabalho. Doada à cidade, ela foi erguida em
1901 para comemorar os 100 anos de fundação do Supremo Conselho.
Nela existiam oito inscrições nos cantos da sua base de granito: autor, poeta,
erudito, soldado, filantropo, filósofo, jurista e orador. Na sua frente uma frase em latim:
Vixit Laborum Ejus Super Stites Sunt Fructus (Ele viveu. Os frutos do seu trabalho vivem
depois dele). Em sua mão esquerda continha a sua obra consagrada Moral e Dogma e
abaixo a figura de uma deusa com o estandarte do Rito Escocês, a águia de duas cabeças.
Era puramente uma estátua de natureza maçônica. A motivação para sua derrubada,
porém, não foi antimaçônica. Foi a concepção de que se tratava de um monumento
confederado, visto que os detratores alegaram que Pike havia servido ao Exército
Confederado.
Os Estados Confederados eram agrários e escravistas e ainda hoje as feridas da
Guerra de Secessão sangram nos Estados Unidos. Desde o massacre de Charleston em
2015, onde um supremacista branco matou nove pessoas numa igreja, as críticas contra
os símbolos dos Estados Confederados cresceram, provocando manifestações,
depredações e retiradas de estátuas de líderes confederados, a exemplo da estátua equestre
do general confederado Robert Lee (1807-1870) na cidade de Charlottesville, na Virgínia,
e agora a de Albert Pike (1809-1891), em Washington, DC.
A remoção da estátua já vinha sendo discutida em razão dessas questões. A
congressista Eleanor Norton havia apresentado projeto para sua remoção. A estátua não
pertencia ao Supremo Conselho, mas ao Distrito de Colúmbia, sendo patrimônio público
sob a guarda do Serviço Nacional de Parques. Arturo Hoyos, arquivista do Supremo
Conselho disse: “Certamente não queremos que um monumento, que foi realmente
colocado lá para homenagear a fraternidade, seja um ponto de divisão dentro da
comunidade em questões raciais”.
Albert Pike foi o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho por 32
anos, de 1859 até sua morte em 1891, organizou todos os rituais do Rito Escocês Antigo
e Aceito, escreveu obras sobre simbolismo e filosofia maçônicas. Como Soberano
Comendador se opunha à união dos maçons brancos com maçons negros, não obstante
compartilhava as cópias autografadas dos rituais com os maçons negros do Prince Hall.
Segundo o escritor Arturo de Hoyos, Pike defendia a segregação racial e aceitava a
escravidão como instituição social, embora a considerasse como um grande mal. Como
advogado que também era, discutia seus casos com base na lei, na Constituição e nas
decisões da Suprema Corte, que declaravam escravos como propriedade. Tinha uma
fascinação particular pelos nativos americanos e se fez amigo de várias tribos indígenas,
compilando dicionários pessoais de suas línguas e dialetos. Tornou-se defensor legal
destes, tratando de assegurar os direitos que o Governo lhes havia prometido.
A estátua foi derrubada e queimada. As razões não dizem respeito à Maçonaria,
não obstante a estátua ser a do maior expoente maçônico americano. Todavia, depreendesse que a questão racial americana continua viva, permanecendo a discriminação aos
negros e resquícios do sentimento confederado. Para uma nação que se diz guardiã da
liberdade e defensora da democracia, a imagem de contrariedade depõe contra esta
postura política. Impõe-se, porém, que a Maçonaria americana de ambos os lados, que se
reconhecem mesmo que parcialmente e que ainda mantêm isolados entre si maçons
brancos e maçons negros, também faça cada uma prevalecer os princípios da Instituição,
como exemplo para a Maçonaria mundial.
Campina Grande, 25 de junho de 2020.
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