Esse texto foi o que mais relutei em escrever e publicar. Isso porque o assunto é pra lá de complexo e sensível, pois se trata de um tema que transita nas páginas mais sombrias da história da humanidade. Abordar esse ponto é de uma complexidade tamanha que deveria nos desencorajar a fazê-lo. Entretanto, ouso emitir alguns comentários, não embasado em estudos científicos das raças humanas, cujo embate insano se dá entre negros e brancos, e ai não sei se esses dois segmentos dominam a espécie humana.
Recentemente o mundo assistiu a uma cena que em sequência desencadearia um movimento devidamente orquestrado e positivo sob o aspecto do resultado prático. Chamou à atenção do mundo, o ato truculento de um policial branco sobre um homem negro, que suspostamente teria praticado um delito em um supermercado, quando tentou pagar uma conta com uma suposta nota falsa. Que crime bárbaro não? Que hipocrisia não?
Os hipócritas não gostam da seguinte pergunta, mas eu vou fazer assim mesmo. Danem-se os hipócritas: e se fosse um “cidadão de bem”, branco, bem vestido, a cometer “um crime horrendo” desses, a postura policial truculenta com pobres e negros seria a mesma? Os hipócritas não têm vergonha na cara e podem responder: “o “cidadão de bem” branco, não comete esse tipo de delito”. Não mesmo? Tem certeza? Não quer mudar de opinião? Aquele “cidadão de bem” que vive à custa do erário público; aquele cidadão de bem que corrompe o guarda de trânsito para se livrar de multas por infrações de trânsito; aquele “cidadão de bem” que vive agarrado às tetas de governos, surfando na onda da corrupção sistêmica; aquele “cidadão de bem”, branquinho, limpinho, que “paga seus impostos” e vive “dentro da lei” (dos mais fortes), todos esses não mereceriam tratamento igual ao dispensado ao pobre, preto e que vive às margens da elite hipócrita, essa que vive a solapar as suas falcatruas e cinicamente que passar uma imagem angelical que definitivamente não a tem)?
O racismo avança juntamente com o recrudescimento do ódio e do desamor. Alguns ousam, com a cara mais lavada do mundo, querer diferenciar o racismo dos americanos com o nosso. Racismo é o mesmo em qualquer lugar. Apenas nos EUA é escancarado e aqui fingimos que ele não existe e que se trata de “mi mi mi”. Que expressão ridícula e extemporânea essa! Também, por aqui temos negros que combatem a própria raça e que figuram em órgãos governamentais com o propósito de desmistificar o racismo reinante em nosso País.
O racismo nunca involuiu no mundo, apenas se escondia na falta de divulgação. Agora, com o advento da internet e das redes sociais, ele mostra a sua cara virulenta, através de figuras nefastas da humanidade, que teimam em impor uma filosofia eugênica. O racismo é filmado ao vivo e a cores (negra, sem trocadilho) e fúnebre em sua essência. Tristes figuras que ainda não se afastaram do ideal de Hitler, Mussolini, dentro outros assassinos da humanidade.
Nos últimos dias assistimos atônitos que o mundo colocou a pandemia em seguindo plano de divulgação na mídia. A onda agora são os protestos (autênticos) dos americanos contra a barbárie de uma polícia truculenta (exceção à regra) , que espelha a conduta violenta dos seus superiores. O policial não pode prender e realizar julgamento sumário de pena de morte. Isso é barbárie dentro do marco civilizatório.
Vamos destacar aqui um posicionamento que não podemos deixar de assinalar: a polícia, em regra, age com seriedade e retidão. As exceções existem por conta de alguns elementos que se infiltram nas corporações policiais indevidamente, pois sua índole é violenta e seria suficiente para barrar o seu acesso às corporações policiais. Portanto, não podemos cometer a injustiça de satanizar todos os policiais, pois isso não está correto e merece combate. Não somos incautos a ponto de não reconhecer que existem marginais que desafiam a polícia como a desmoralizá-la. Para esses, os rigores da lei. Nem tudo está perdido. Assistimos pela TV, uma cena de emocionar, quando policiais se ajoelharam, diante de uma multidão que protestava nos EUA, em gesto de solidariedade. Como se vê, a polícia, no geral, não quer violência. Exceções de marginais vestidos de policiais, não devem manchar a imagem da corporação, tão necessária em uma sociedade civilizada.
As formas de atuação e abordagem devem guardar homogeneidade em seu formato. Os tipos de abordagens não devem seguir a lógica da maldita segregação racial e de classe. O modo de abordar o rico, o branco, o empresário, o poderoso deve ser o mesmo destinado aos pobres, o pretos e aos fragilizados. Ou seja, todos têm direito a um tratamento humano e equitativo.
Existem excessos no desrespeito aos policiais em serviço. Não se pode criar uma cortina de fumaça sobre essa realidade. Mas não foi esse o caso do George Floyd, cuja índole, conforme tratam os noticiários, era de uma pessoa amável e de bem com a vida civilizada. Apenas lutava para sobreviver a essa guerra insana que é a desigualdade social, onde negros e pobres combatem em desvantagens absurdas diante do desequilíbrio das “armas” disponíveis.
Temos um grande desafio pela frente: combater o vírus, o fascismo e agora, um elemento que reaparece com toda força: o racismo. Não está fácil, mas vamos conseguir!
O George Floyd queria respirar durante oito minutos e o seu algoz não permitiu. Essa atitude perversa e covarde nos tira a respiração por muitos minutos. Esperamos sobreviver à falta de oxigenação na ética, na moral e, sobretudo no espírito de humanidade e urbanismo. Senão estaremos condenados à morte por asfixia provocada por atitudes de monstros existenciais.
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