Estampado nos jornais da semana passada, o ato criminoso, selvagem e inconsequente de um jovem de uma cidade de Santa Catarina, quando desferiu golpes no rosto de uma professora, trouxe à tona o nível de mesquinhez, brutalidade, selvageria que se assenta no seio da nossa sociedade, sob o aplauso de alguns imbecis que se escondem debaixo de uma pele, que não sabemos se é de cordeiro ou de lobo. O fato é que figuras dessa estirpe ficam à espreita de acontecimentos hostis e aí colocam suas garras de fora, buscando cravá-las na presa fácil de um ser que convive num cenário cada vez mais louco e insano.
Sinto decepcionar alguns, mas se equiparam aos marginais, aqueles que, ao tomarem conhecimento do fato, engataram uma primeira, e foram correndo direto às redes sociais, sedentos e babando a procura de esmiuçar o perfil da odiada mestre, na certeza de que lá iriam encontrar algo que servisse de motivo, na sua visão doentia e febril, que justificasse o ato do menor delinquente.
Ao constatarem que a docente tem um posicionamento político adverso aos dos pesquisadores sedentos, não deixaram barato e aí começaram a exibição de tantos paralelos idiotas que chegam a causar náuseas nas pessoas de bom senso humanitário, que não se deixam contaminar com o veneno do ódio.
O pior é que alguns elencaram tanta bobagem, porém utilizando-se de argumentos sorrateiramente fascista, que até afetaram as convicções dos menos desavisados. Aliás, o elenco de figuras com essa capacidade é de uma dimensão imensurável.
Quem é a professora que apanhou? Fugindo covardemente do foco da questão, os reais idólatras da violência pegam carona nas convicções alheias, para desenfrear uma série de conceitos ridículos, não tendo ao menos o cuidado de pesquisar a história e seus personagens, antes de proferirem “abobrinhas” e ridicularizantes posicionamentos.
O foco deveria ser a agressão em si, pois o professor, massacrado pelas políticas de desqualificação a que são submetidos por todas as linhas ideológicas, é a vítima e o alvo de toda espécie de agressão e pouco caso. Caberia a nós ficarmos do lado do mestre, contra qualquer intenção de molestá-lo.
Não podemos aceitar que o posicionamento de esquerda da agredida senhora seja motivo maior para a ação do jovem delinquente. No caso, este nada entende de política, pelo que apuramos. Uma simples observação de correção de postura foi o suficiente para o jovem se insurgir contra a sua mentora e deferi-lhe golpes que, com certeza, deixarão cicatrizes no rosto e na alma.
Não meus caros. Aqui não se trata de política e sim de um ato delinquente de um jovem símbolo de uma sociedade doente. Não podemos aplacar atos de violência física sob qualquer justificativa. Descobriram que a professora manifestou simpatia a uma jovem que atirou ovo em uma figura política. Comparam e colocaram os dois atos de agressão num mesmo patamar de violência. Claro que não faz nenhum sentido, afinal um ovo fere muito menos do quer os punhos de um brutamonte de quinze anos, contumaz em atos violentos, conforme foi apurado.
Não conseguimos amaciar a violência, acautelando o ato em si no que a professora se manifestou anteriormente nas redes sociais com a sua visão divergente de outras correntes. Ora, a se justificar e aceitar a enganosa motivação, deveremos concordar que o arremesso de ovos em políticos é um ato civilizado, haja vista as barbaridades cometidas atualmente por alguns dos nossos parlamentares, quando não mostram nenhum constrangimento em legislar em causa própria.
Não é esse o Brasil que queremos. A se aceitar a revanche raivosa contra quem coloca as suas divergências nas redes sociais, estabelece-se uma relação perigosa, pois poderemos ser agredidos nas ruas ao sermos identificados como pessoas que pensam diferente de outras correntes.
Não à violência sob qualquer prisma. A imotivada agressão não pode ser entendida como um reflexo de atos contínuos de maus políticos, a ideia irresponsavelmente defendida por alguns.
O mundo precisa de freios ABS. Não podemos instigar a “banguela”.