Olhar pra dentro é uma missão quase impossível. O nosso dia a dia atribulado nos condiciona a atitudes que afetam o “eu psíquico”, e aí direcionamos o nosso olhar invariavelmente para exterior. O mundo é um farto depósito das nossas percepções.
Tudo isso pode nos causar angústias e nos levar a um quadro depressivo diante da sensação de impotência que pode nos acometer, pois na nossa visão o mundo está errado. Olhamos pra fora com as nossas lunetas biológicas e constatamos a existência de inúmeras anomalias que nos arrebata o sossego e a alma.
O grande desafio que devemos assumir é o de aplacar as agruras que nos acomete e para isso precisamos desenvolver descomunal esforço e olharmos para dentro de nós mesmos. Como fazer isso não é uma tarefa dócil. Precisamos reinventar a roda que possa simbolizar sentimentos.
Longe de querer estabelecer um ponto final nesse tema, buscamos desenvolver um ponto de vista sob o prisma das nossas atitudes, por vezes mesquinhas e voltadas para a crítica velada, sem a mínima preocupação com o que ocorre no nosso interior. Invariavelmente estamos sempre estabelecendo o ponto a ponto, e com isso agimos infantilmente em busca de mudanças das pessoas que nos rodeiam.
O mundo está amargo. Essa percepção não procura vínculo com previsões apocalípticas. Ela persiste estabelecendo uma metamorfose constante no nosso estado de espírito, e aí alcançamos uma efervescente batalha de egos e interesses e esquecemo-nos de amar ao próximo como se isso fosse utópico, diante do grau de perversidade que tomou conta da humanidade.
Vimos observando que em uma época do ano civil temos um mês que se apresenta como uma possibilidade de harmonia e fraternidade. Trocamos presentes, comemos e bebemos fartamente, celebrando o Natal, e por muitas vezes nos esquecemos do seu verdadeiro sentido, entretidos que ficamos nos amigos secretos (ou da onça), confraternizações, abraços calorosos (ou de “tamanduá”). Nada importa a não ser a roupa nova, o cumprimento cortês e afável. O comércio “bombando” para o deleite de alguns gananciosos capitalistas que só enxergam cifras à sua frente. Já outros se utilizam do período farto para garantir o sustento da sua família. Tudo é válido, mas efêmero. Como que num passe de mágica, aquí estamos nós cheios de ódio, rancores, desequilíbrios e carentes de amor ao próximo, principalmente para com aqueles que não rezam pela nossa cartilha.
O espírito natalino é uma dádiva. É impressionante como nessa época do ano tudo parece aflorar. A bondade, a responsabilidade, a confraternização, o amor ao próximo. Gosto do Natal. Gostaria mais se esse espírito fosse perene. Acredito que poderemos chegar a esse estágio se desenvolvermos o hábito de olhar pra dentro. Enxergar o nosso “eu” e tratar das doenças do coração e da alma. Não podemos dar prazo de validade para a fome dos mais necessitados. Não podemos limitar ao Natal a possibilidade de presentear uma criança com um presente simples, fora dos padrões iPhone e Smartphone. Não podemos cravar a conduta dura e personalista de achar que somente os letrados, os capacitados, os formados nos bancos de Havard, Massachusetts, Cambridge, dentre outras poderosas universidades do universo.
É difícil olhar pra dentro e acomodar essas inquietudes que a vida nos impõe. O nosso estágio espiritual ainda não alcançou o ápice. Por isso somos demandados para uma mudança atitudinal, mesmo entendendo que alguns não conseguem enxergar essa realidade e preferem tocar a vida alheios a essas questões sentimentais. O olhar interno, não raro, tem uma amplitude reduzida. Por isso torço para que a nossa batalha interior seja olhada com maior atenção. Esse pensamento, surrealista para muitos, tem um significado nas nossas percepções. De que adiante eu feliz e o mundo penetrado nas sombras da tristeza e da infelicidade? Precisamos olhar pra dentro e arrancar esse conceito enraizado e mesquinho dos nossos corações.
José Ricardo é contabilista e servidor público federal aposentado