Neste particular instante do dia 16.06.2016 em que se instala pela primeira vez em Campina Grande, aqui no Mini Teatro Paulo Pontes, o evento Por do Sol Literário, trasladado de João Pessoa pelo jornalista e escritor Helder Moura, saudar Lourdes Ramalho, ilustre confreira da Academia de Letras de Campina Grande, ocupante fundadora da Cadeira nº 20 que tem como patrono o professor Luiz Gil de Figueiredo, não é simplesmente homenagear a Companheira, mas homenagear também a Poesia e o Teatro Popular.
Maria de Lourdes Nunes Ramalho é norte-rio-grandense de Caicó por nascimento e paraibana de Campina Grande por título e pelo coração. Desde menina aprendeu a amar a terra e o povo do interior nordestino, trasladando para sua poesia e seu teatro os falares da região. Os elementos culturais nordestinos, ameaçados de extinção pelos meios de comunicação de massa, que vão fazendo desaparecer hábitos, costumes, tradição e folclore, encontram em Lourdes Ramalho a sobrevivência, assegurando a permanência da cultura regional.
Ela impregna os seus textos teatrais de um sentido profundo – como diz Silvio Ramalho – que nos leva de volta ao seio da gleba, expressão genuína dos que labutam o chão, pés descalços e mãos na terra, na luta difícil diária pela própria sobrevivência, sobraçando necessidades, penúrias, mas por vezes rindo da própria miséria, quando chegam a afirmar que “desgraça pouca é bobagem”.
Do seu livro de poemas “Flor de Cactus” à sua mais recente obra teatral, vê-se o foco da preocupação ramalhiana, qual seja a documentação dos falares e de outros elementos como reação ao colonialismo cultural. “Fogo Fátuo” diz bem, por exemplo, da exploração econômica estrangeira do nosso solo; “A Feira” trata do choque da população rural com a população urbana; “Festa do Rosário” evidencia o tão negado preconceito de cor; “As Velhas” põe à luz a indústria da seca. A poesia de Lourdes Ramalho é teatral, como seu teatro é poético. No seu trabalho há um misto desses dois tipos de arte, que se unem pelos liames do cordel. A complicada trama, por exemplo, de “As Velhas” é cordelesca.
Quase todas as suas obras teatrais foram premiadas no Brasil e no Exterior, sendo seu nome, no mundo do teatro, um nome conhecido nacional e internacionalmente.
Com seu estilo vigoroso, a figura feminina em Lourdes Ramalho é evidente. Hermano José, igualmente nosso saudoso confrade na Academia, diz que as mulheres descritas por Lourdes Ramalho são sempre marcantes, como a “Maria Augusta” de “Fogo Fátuo”, que aparecendo apenas na narrativa, impõe-se como uma mulher forte, ou a “Dona Santa”, solteirona, batalhadora e independente, na mesma peça; a “Mariana” e a “Vina” de “As Velhas”, ferozes defensoras dos filhos, como também o é “Filó” de “A Feira”, que só é vencida pela doença; a “Vó” de “Festa do Rosário”, dura e lúcida; a “Paulina” de “Os Mal Amados”, uma submissa aparente; a “Perpedigna” de “A Eleição”, de língua ácida e atitudes destemidas.
Pascoal Carlos Magno disse que ela “possui imenso potencial de criatividade que põe a serviço de uma pesquisa folclórica, linguística, política, social e humana, envolvendo tipos como feirantes, cegos, cantadores, trambiqueiros, ingênuos, poetas e santos, amalgamando tudo no trágico e no cômico, com uma maestria bem digna de sua pena”. Luisa Barreto Leite afirmou que “a proposta de Lourdes, estruturada numa dramaturgia dentro de raízes nordestinas, afirma-se por si mesma como valiosa contribuição ao teatro nacional”.
Francisco Pontes de Paula Lima falou que a “observação, equilíbrio e autenticidade criadora são qualidades que marcam sua obra”. Altimar Pimentel arremata dizendo que sua contribuição “para o teatro nordestino e nacional coloca-a entre os melhores dramaturgos que temos e, certamente, entre outros que encaram o teatro com maior seriedade”. E Severino Machado, também saudoso confrade da Academia de Letras, se expressou dizendo ser Lourdes “uma poetisa nordestina que canta a nossa terra, ama o nosso chão, conhece a nossa gente e os seus momentos mais felizes e tristes”.
Estes testemunhos dizem muito bem da arte e do trabalho de Lourdes Ramalho. Sua obra permite estudá-la nas suas percepções do cotidiano nordestino e desvendá-la nos seus mais íntimos arroubos da arte poético-teatral. Na minha condição de Presidente da Academia, sinto-me contente por poder nesse especial momento me congratular com nossa ilustre confreira Lourdes Ramalho, em nome da nossa entidade, a Academia de Letras de Campina Grande.