Nos Estados Unidos um policial branco imobilizou um cidadão negro e o matou diante dos seus companheiros de trabalho. A reação da população foi a manifestação pelo país inteiro contra tal atitude, que se repete lamentavelmente. Como se sabe, os Estados Unidos permanecem há séculos discriminando seus cidadãos pela cor e por outras características.
Todavia, estas manifestações já não trazem em sua motivação esse fato discriminatório, porém outros problemas sociais ainda não resolvidos se associam, fazendo estender a reação além de seus limites e particularidades. Como resultado da situação complexa da vida norte-americana, a população se insurge contra o governo constituído para lhe recriminar e dele exigir a solução de tantos outros problemas sociais que a penaliza.
Tudo isto ocorre em plena situação de retenção das pessoas em suas casas por conta da pandemia que, invadindo o país, o coloca em primeiro lugar no mundo em número de casos confirmados e mortes pelo ataque mortal do coronavírus. A pandemia parece não ser presentemente o problema principal a ser resolvido, quando a população está indefesa e com medo.
Tais manifestações, porém, ultrapassam as fronteiras do país. O exemplo que a população norte-americana dá ao mundo repercute de maneira tal que, aqui no Brasil, já surtem efeitos com manifestações cujas palavras de ordem extrapolam as questões da pandemia para ressaltarem outros interesses políticos. Como lá, aqui parece que os problemas principais são de ordem política e não de ordem sanitária pública com a pandemia.
Já está por demais claro que o comportamento das autoridades brasileiras não é de preocupação com o povo brasileiro em sua cotidiana luta pela sobrevivência. As autoridades estão preocupadas em se imporem ante as outras como as autoridades máximas, principais, detentoras da verdade política pela qual se justificam como tais, bem como do poder de prevalência sobre os demais.
Desprezando o princípio de Montesquieu que norteia as repúblicas democráticas, pelo qual o poder tripartite deve coexistir em harmonia, cada qual busca sobrepujar o outro fugindo aos limites da outorga constitucional originária do povo que os criou e os mantém. Os poderes executivo, legislativo e judiciário, ante o Poder originário são um único e mesmo poder, com as suas atribuições e funções próprias e não intercambiáveis.
Os erros, as incoerências, as imperfeições, as incompreensões, as vaidades e tudo o mais que destoam dessa harmonia política, não se encontram nesses poderes, mas sim, naqueles que os representam. São as autoridades as únicas responsáveis pelos malefícios causados ao povo brasileiro por suas ambições e ingerências, pelos quais o titular do Poder exclusivo, que é o Povo, está pagando alto preço.
O contrato social que se sustenta em Rousseau cai por terra ferido ante o desrespeito e a incoerência dessas autoridades, que tolhem suas representações em favor de seus próprios interesses, em detrimento dos interesses de quem lhes outorgou o poder de representá-lo, isto é, o Povo.
As manifestações populares exacerbam em suas demonstrações, ovacionando grupos sociais norte-americanos já condenados no passado e regimes políticos ditatoriais ilegítimos, deixando estarrecidos os cidadãos brasileiros de bom senso, além da inconveniente exposição ante os perigos da pandemia que assola a todos.
Que tais autoridades entendam de vez que são vassalos do Povo. Os senhores não são donos do Poder, portanto, sejam exemplos dignificantes, cumpram seus mandatos com responsabilidade e realizem suas funções dentro daquilo que o Povo exige, dentro dos limites que a Constituição impõe, todos preservando a harmonia, a paz, a justiça social, a ordem e o progresso.