Amanhã é o meu dia! Fantástico! Receberei presentes, visitas esperadas (e inesperadas também). Abraçar-me-ão, beijar-me-ão, dirão o quanto me amam e sou importante. Hoje é o meu dia! Queria que todos os dias fossem o meu dia. Não por egoísmo, mas para manter a chama que me alimenta e anestesia a dor sublime de ser mãe em certas horas, pois às vezes sofremos num paraíso que nos foi reservado. “Ser mãe é padecer no paraíso”. Essa frase, tão surrada, tão decantada e cantada, continua a ser a simbologia do ser mãe.
Amanhã é o meu dia! A ele dedico o meu materno amor, dádiva do Ser Supremo que planejou esse propósito de vida, que é amar incondicionalmente o meu rebento. Mesmo antes de conceber um filho, fui mãe de uma boneca inanimada e a ela dediquei todo o meu carinho e simbolismo. Fui mãe da minha mãe, quando ela mais necessitou. Ser mãe é passar pelo estágio da benevolência, da candura, da compreensão infinita dos problemas que afligem os filhos. Esses sim, por muitas vezes insensatos, frios, afastados, envergonhados, impacientes, talvez por concluírem que não tenho mais utilidade em suas vidas e que cuidar de mim é um fardo pesado que não podem suportar. Não sofrem por me verem sofrer e sim pela imposição de responsabilidades que acham não serem suas, pois há muitas coisas boas para serem aproveitada nessa vida materialista e cheia de regras e desafios.
Não peço nada demais. Somente um pouco de paciência quando eu falar e você não me entender. Do mesmo jeito, perdoe-me quando eu disser que não entendi uma coisa. Nesse momento não grite comigo, pois isso dói demais. Aniquila a minha alma e faz pensar que chegou a hora de partir. Partir para um mundo que não sei se é melhor, mas que me possibilitará poupá-lo das agruras que te imponho com as minhas fragilidades involuntárias e inevitáveis. AH! Como eu queria evitar isso.
Vou tomar os remédios sim. Não sei pra que, mas vou tomar. Se você “os receitou” é para o meu bem. Mas tenha em mente uma coisa: todos esses remédios não substituem o placebo milagroso que é o seu amor e a sua compreensão, a sua paciência e o seu altruísmo.
Amanhã é o meu dia! Não tenho a mesma agilidade de outrora, portanto não queira que eu corra subindo todas as escadas que a vida me impõe. Se possível, segure firme no meu braço, pois se afrouxar poderei me sentir insegura e me arrebentar no chão.
Amanhã é o meu dia! Também já fui filha, hoje sou mãe e amanhã serei apenas uma lembrança. Lembrança apenas para você, porque lá de cima continuarei te amando, pois o amor materno é infinito. Lembrarei e zelarei para que trilhes o caminho do bem. Lá do alto dedicarei a plenitude do meu amor, que aí embaixo não foi possível demonstrar, diante dos conflitos, perversidades, ódio, rancor, falsidade, impaciência, intolerância, e, sobretudo a carga de responsabilidades e compromissos que você tem e que nos afasta um pouco do convívio familiar, e porque não dizer humano. Tudo isso são pontos negativos com os quais todos nós nos identificamos, pois a nossa existência material é cheia de percalços e armadilhas.
Amanhã é o meu dia! Você não, mas alguns poderão dizer: “que velha amarga”! Estão enganados os que pensam assim. Ao abrir o meu coração no dia que me dedicaram, quero dizer que, não obstante a injustiça de uma civilização perdida no seu conteúdo, guardo em meu surrado coração um amor profundo, imutável, indescritível, e blindado contra metamorfose modernas, para ofertar-lhe, não somente hoje, mas todos os dias, segundo por segundo, minuto por minuto, hora por hora, mês por mês, ano por ano, século por século, milênio por milênio, infinidade por infinidade.
Receberei todos os presentes materiais que me serão destinados. Sei que essa atitude sua exprime o carinho que sentes por mim, afinal, receber presentes é sempre bom não é? Agora, sabe qual o maior presente que você poderia me dar nesse dia emblemático, principalmente para a ganância mercantilista que tomou conta do espaço terrestre? A sua atenção, o seu cuidado, a sua paciência, e, sobretudo uma “frasezinha” mixuruca para alguns, mas que para nós mães tem um simbolismo inimaginável: Mãe, eu te amo! Abrace-me, beije-me. Esse será o meu maior presente. Guardarei comigo e o levarei para a próxima estação da minha vida. Filho (a) esteja comigo todos os dias. Deixe alguns sabichões falarem que existem mães super protetoras, que com os seus gestos dominadores acabam causando mal aos filhos. Não ligue para esses. Eles podem ter estudado muito, mas, com certeza, ainda não decifraram o amor de mãe. Ah! São incapazes disso, porque o amor de mãe é enigmático. O que possam falar e defender são apenas teses. Quem entende de amor materno somos nós, detentoras da patente sublime de “MÃE”. Filho (a), eu te amo!