Escrevemos aqui sobre uma instituição que simboliza o orgulho dos brasileiros, estrutura da qual participei, alcançando o cargo mais elevado em nível de agência, a Gerência Geral. Ingressei na instituição Banco do Brasil em 1981, permanecendo lá até 2002, quando completei o tempo para aposentar-me e aí optei em migrar para a iniciativa privada, buscando ficar mais perto da minha família, já que tive uma vida nômade no período. Na iniciativa privada continuei emprestando o meu conhecimento profissional adquirido na trajetória da instituição BB, dando um tempo agora por força das circunstâncias, mas pretendendo voltar ao mercado com força total, dentro de um novo cenário desafiador.
Esse patrimônio brasileiro nasce em 1808, portanto há 212 anos, sendo que no percurso tem contribuído para a estruturação da economia. Foi a primeira instituição bancária do Brasil, tendo criada uma marca que orgulha a todos nós.
Pois bem, não obstante a importância da instituição como instrumento moderador do mercado financeiro, o olhar enviesado do pensamento neoliberal, na sua versão arcaica apresentada pelo “dinossauro” Paulo Guedes, que parou no tempo e ainda defende as ideias do capitalismo neoliberal de Chicago, com o viés de Adam Smith, desconsiderando a falência desse modelo, que levou o mundo à quebradeira no ano de 1929, conforme consta da literatura disponível. A crise de 1929 tem como componente principal a radicalização da teoria capitalista da centralização dos meios de produção nas mãos de uma elite que se encarregaria de administrar o bolo econômico e aí possibilitar ganhos de sobrevivência para as camadas mais singelas da sociedade. O estado deixaria de existir como parte do mercado. Não precisa ser nenhum especialista para concluir que esse modelo não poderia dar certo, pois a ganância da burguesia não pode ser medida por nenhuma régua. O resultado foi uma quebradeira geral, pois com a economia toda desregulada, por falta de capacidade e interesse dos capitalistas, a insatisfação era geral.
A partir de então, entra um novo pensamento, baseada na teoria do bem estar social do pensamento Keynesiano. A partir de 1930 então, passa-se a olhar para os problemas sociais, criando-se o seguro desemprego, a previdência e os programas sociais. Em aparte, acho esse modelo o mais interessante que temos depois de feitos alguns ajustes para adequação à realidade atual. O socialismo, nos moldes defendido lá nos primórdios é uma utopia. Esse é um assunto para outro Ponto de Vista.
Nesse compasso surgem dois lunáticos no fim da década de 70, e resolvem ressuscitar as ideias mortas de Adam Smith, e implanta a nova versão do liberalismo, que se convencionou chamar de neoliberalismo. Nesse modelo, a ideia é diminuir o tamanho Estado, reduzir os impostos dos grandes, minar as conquistas sociais, enfraquecer os sindicatos, e aí criar todas as condições para as suas atrocidades econômicas. Com Paulo Guedes isso foi ressuscitado notaram? Devemos isso a dois energúmenos da história mundial, que foram Margareth Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (EUA). A história não tem motivos para destacar positivamente essas figuras.
Saliente-se que o neoliberalismo foi abandonado no mundo inteiro. Hoje o que prevalece é o modelo de Keynes, e agora tende a se consolidar, pois a pandemia do corona vírus trouxe à luz uma realidade: impossível se viver sem o aparato estatal como ente regulador das relações sociais. A iniciativa privada nem tem capacidade, nem interesse em assumir responsabilidades com as demandas sociais da população, pois o seu alvo, atual, é o rentismo financeiro. Não querem nem mais investir nos meios de produção, pois o mercado de capitais lhe rende muito mais com muito menos. Então para que investir em infraestrutura não é mesmo?
Pois, é o Paulo Guedes ressuscita o morto chamado capitalismo clássico, e na reunião do fatídico 22 de abril divulgou o seu sonho de consumo que é a privatização do Banco do Brasil a qualquer custo, cujas intenções ficam evidenciadas na frase chula: “tem que vender essa porra!”, o que causou rizadas da caterva.
O Brasil está em liquidação. A se concretizarem as loucuras de Paulo Guedes, em breve teremos uma cena que foi “profetizada” por um professor meu há 42 anos, na banca acadêmica do Instituto Brasileiro de Contabilidade, Rio de Janeiro, em 1978, quando disse: “no futuro teremos um guarda vigiando a máquina e um cachorro vigiando o guarda”. Aquele professor tinha bola de cristal ou era vidente. Acertou em cheio. Estamos caminhando a passos longos para esse quadro se algo não acontecer e tire essa súcia do Planalto.
Os que defendem privatizações justificam que se fazem necessárias, pois as empresas do Estado são cabides de empregos e âmbito da corrupção sistêmica. Essa pecha o Banco do Brasil não leva, pois não se tem conhecimento de desmandos e malfeitos corporativistas praticados pela instituição centenária. E o BB nem é estatal. É sim, uma sociedade de economia mista, com predominância do governo na constituição acionária da instituição. Contem outra, pois essa não cola. Só se todos fossem tolos e neófitos. Os motivos da saga pela entrega do patrimônio público às forças econômicas são outros e passam pelo compromisso assumido com o capitalismo improdutivo, que só beneficia cinco brasileiros que concentram patrimônio equivalente a cinquenta por cento da renda da população mais pobre do Brasil. Pense nesse quadro. Isso é razoável?
Eis o motivo para pararmos de pensar com o fígado, inteirando-nos dos fatos através de farta leitura disponíveis em livros e na internet. Isso lhe tornará mais crítico e eliminará o seu pensar limitado, baseado em suas convicções ideológicas e arraigadas.
É isso que buscamos, desconsiderando críticas reles de quem tem preguiça de ler, interpretar cenários e se posicionar com o seu senso crítico, e que prioriza o mais fácil: aquele materialzinho fuleira extraído das redes sociais de quem não detém conteúdo. Fazer o que não é? Não chamem isso de prepotência e que queremos ser melhor do os outros. Nada disso. O saber é uma necessidade.
Deixem o Banco do Brasil em paz! Ele deve ser tombado como patrimônio histórico brasileiro.
Fontes:
Revista – Guia Quero Saber – On line Editora.
Livro: A crise de 1929 – Uma breve introdução – Autor Bernard Gazier