Não é uma afirmação, sim uma pergunta: já podemos desarmar o circo? Partiu, rumo à Curitiba, onde o ex-ministro Sergio Moro prestará depoimento sobre o pedido que fez a PGR. Criou-se uma expectativa grande haja vista que os momentos que antecederam ao conhecimento dos fatos relatados pelo depoente tiraram o sono do Bolsonaro e, com certeza, causaram-lhe desarranjos intestinais, eventos normais quando sofremos impactos relevantes que nos tiram o sossego. Acho que agora o Presidente vai dormir tranquilo.
Esclareço que a leitura atenta e integral do depoimento concluído em Curitiba antecedeu a produção do presente escrito. Deixo claro que não sou especialista em depoimentos judiciais, entretanto não me constrange, sem nenhuma soberba, dizer que tenho certa habilidade para interpretar conteúdo literal, mesmo não sendo membro da ABL. Não tenho nenhum receio de afirmar que o depoimento que veio à luz é uma cópia melhorada do pronunciamento do declarante por ocasião de sua saída do Governo, em 24.04.2020. Não precisava se deslocar à PF, EM Curitiba, para prestar tal depoimento, somente sendo necessário encaminhar suas razões expostas no pronunciamento de demissão.
Não obstante, procuraremos ressaltar alguns pontos interessantes, e um deles se destaca dos demais: o desejo doentio e incontido do Presidente Bolsonaro de acompanhar e coordenar a Polícia Federal do Rio de Janeiro, haja vista ter declarado, segundo o depoente, o seguinte: “você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma”. Trata-se da PF do Rio de Janeiro, base política do Presidente e de seus filhos, configurando-se sim interesse de inserções políticas em assuntos de alta relevância para a isenção da justiça. Qual o interesse em patrulhar a PF do RJ? Note-se que o primeiro ato do Diretor nomeado para a PF foi trocar o comando da superintendência da PF no RJ. Bastante sintomático não? Ou estou sendo irresponsável mesmo todos nós conhecermos o caráter do Presidente?
Destacamos, ainda, algumas contradições ou confusão no relatório em tela. Num momento, o depoente diz que o Presidente recebia relatórios de inteligência, portanto declarando “a afirmação do Presidente de que não recebia informações ou relatório de inteligência da PF não era verdadeira!” Em outro trecho do depoimento está consignado, esses insistentes pedidos do Presidente de relatórios inteligentes da PF, foram levados ao conhecimento de três ministros do Governo (Secretaria do Governo, Gabinete de Segurança Institucional e Casa Civil). No que o general Heleno teria afirmado: “o tipo de relatório de inteligência que o Presidente queria não tinha como ser fornecido”. Pelo que deduzimos do depoimento, esses relatórios estavam chegando às mãos do Bolsonaro. Aí eu não estou entendendo mais nada. Presumo que todos cometeram irregularidade então. O depoente assegura que o Presidente recebia os relatórios; o General afirma que não pode ser fornecido esse tipo de relatório. Muita contradição ou confusão no meu entendimento. Vale salientar que o Bolsonaro afirmou que se trata de “mentira deslavada”! a informação do ex-ministro.
Os três ministros citados deverão ser ouvidos. Vamos aguardar o que nos reservam as testemunhas que estão dentro do governo atualmente. Difícil situação das testemunhas não? Terão de desmentir uma das duas figuras envolvidas no imbróglio. E aí já vislumbro o resultado, mas prefiro mantê-lo em segredo para não gerar interpretações açodadas e descabidas.
O depoimento também registra que o Presidente tinha como um dos motivos para interferir na PF do RJ, suposto encalço do órgão a deputados bolsonaristas. “Mais um motivo para mudar o comando da PF no RJ”. Mais claro do que isso só desenhando.
Agora a bola está com a investigação futura. O PGR elencou uma série de possíveis crimes elencados, mas nos parece que se trata de “bijuterias” para embasar possíveis decisões. Temos de aguardar. Uma coisa é certa, o ex-diretor da PF, o senhor Valeixo precisa ser ouvido, bem como a Deputada Carla Zambelli também.
Outra curiosidade muito estranha: criou-se grande expectativa em torno do vasto material de provas que teria o Sérgio Moro, e ele se limitou a disponibilizou o seu celular, que após ter afirmado que apagou muitas mensagens de conversas com o Presidente, supomos que o que encontrarão serão mensagens sem qualquer importância para o processo. Entretanto, acho que, se os investigadores quiserem ir a fundo mesmo, o conteúdo apagado poderá ser recuperado. Resta saber se há interesse em estabelecer a verdade. A essa altura, sinceramente, acredito tratar-se de mais um circo, cujos palhaços somos nós.
O Presidente é muito sensato. Quer apenas controlar a PF do RJ. Muito bonzinho ele não? Diante das minas secretas ele quer se apoderar de uma: daquela onde fica localizado o seu reduto. O Eldorado do Presidente. Temos certeza e esperança de que a briosa PF não se prestará ao papel de marionete do Presidente. Não é esse o histórico da corporação que nos tem enchido de orgulho pela discrição e efetividade no combate aos crimes de sua jurisdição
Acho sinceramente que devemos voltar nossas atenções ao grave problema da Pandemia que saiu de foco dando lugar ao péssimo momento político em que vivemos. Manter o isolamento social como freio à contaminação em massa, o que evitará sérios problemas, é uma medida que se faz necessária, não obstante os sabotadores das orientações emanadas dos órgãos ligados à saúde e à ciência. Eita Brasil de caboclos!