Na noite dos descalabros, assistimos em horário nobre, cada pronunciamento de abutres pertencentes às diversas famílias do grupo rapina. A batalha de impropérios e dissimulações foi algo que deu ibope de cem por cento com certeza, pois de frente para a telinha estávamos nós, algozes das ratazanas partidárias, como a esperar uma decisão republicana e coerente.
A essa altura fico indeciso o que é melhor para nós. Sim, confesso que diante das alternativas que se encontram na suja prateleira política, já não estou convencido do que seja melhor para nós nesse momento, pois definitivamente retrocedemos aos tempos da cultura feudal, onde grupinhos poderosos dão as cartas do jogo, pagando alto, com o dinheiro alheio, para que as suas vagas na fila para mamar nas tetas da nação sejam resguardadas.
A batalha dos abutres desvendou novas táticas. Agora vale aceitarmos corruptos em nome de uma protelada estabilidade econômica, como se não saibamos que nada disso interessa a eles, preocupados que estão em abocanhar tudo para os seu pares.
O crime na política virou peça de ficção. O teatro foi armado para que os atores desfilassem as suas artimanhas. Cada voto, seja de que lado, demonstrava a gaiatice e a fedentina que exala imperiosamente nos cantos da casa que deveria abrigar os anseios populares. O povo deixou de ser parte importante do processo democrático. O artigo que trata da soberania popular já não faz nenhum sentido. Podem suprimi-la por Decreto que ninguém se incomodará.
A ausência do povo nas ruas chama a atenção das pessoas de bom senso. Diferentes dessas, somos obrigados a ouvir colocações infantis sobre os motivos do desânimo popular. Alguns blasfemam com o uso do ego imutável, defendendo que o atual governo está fazendo a coisa certa e por isso tem aprovação popular, não se justificando qualquer tipo de protesto. Não existe coisa mais absurda do que esta constatação. Ela não se sustenta por si só, haja vista o elevado índice de rejeição, beirando a casa dos 100%.
Circulam nas mídias um termo de uso pequeno: medidas parlamentares impositivas. Ora bolas, essa ideia não se coaduna com a severa política recessiva que quer impor o atual governo. Defendeu com unhas e dentes a limitação dos gastos públicos pelo período de vinte anos, engessando investimentos em áreas prioritárias dentro das premissas dos programas sociais defendidos por todos e em apenas dois meses liquida o saldo de subvenções a deputados e aí sem a observância do saldo de caixa do Tesouro. A justificativa de que são verbas obrigatórias é esdrúxula, porque descaradamente foram usadas para comprar a consciência corrupta de alguns parlamentares do mesmo Clã.
Aqui não vai uma crítica partidária porque os abutres oposicionistas já usaram e usariam das mesmas armas letais, que ferem de morte a dignidade de alguns, que é o dinheiro.
Voltamos ao período dos feudos. Aceitamos inertes e embasbacados colocarem tornozeleiras feudais, pois não temos mais ânimo para nos rebelarmos até quando estamos diante de fatos comprovados de corrupção sistêmica. Provas frágeis, não contundentes, estes são os argumentos dos anestesiados e maldosos. Deixar o malfeitor continuar a sua obra maquiavélica de supressão de direitos é uma coisa que traz regozijo para alguns. Disseram que o julgamento é político e não criminal e que isso ele enfrentará após o mandato. Não existe pensamento mais louco do que esse. Agora aceitamos crimes desde que o criminoso esteja bem intencionado. Parte da sociedade, felizmente uma minoria, sofre da “Síndrome de Estocolmo”, simpatizando com o criminoso, numa atitude que somente a psicologia avançada poderá nos explicar.
Outras colocações somos obrigados a ver, como por exemplo: ele é valente e não se entrega às pressões. Precisamos de mais atenções nessas nuances políticas. O que se constata é uma preocupação latente de preservar, e evitar uma situação que levaria, de imediato, o acusado ao banco dos réus, impondo uma tremenda saia justa aos julgadores. Com o principal denunciado e julgado no atual momento de turbulência, não havia como livrar as caras de outros tantos de estão na fila da morosa e tendenciosa justiça brasileira. A justiça não é para preservar momentos. A justiça é para julgar delitos. O momento é esse. Deixar para depois tornam as falcatruas menos relevantes.
Precisamos de um grande projeto nacional. O sistema presidencialista não nos serve mais. Precisamos experimentar outras formas de governos e sistema econômico, tudo isso num amplo debate da sociedade com as pessoas de bem.
Aproveitemos que retornamos aos feudos e vamos nos organizar numa corrente positiva de ideias, deixando os ranços idealistas partidários, que ao longo dos séculos têm causados estragos irreparáveis com a alternância de correntes doutrinárias que não se sustentam como ideais.
Vamos pegar o que há de bom nas teorias de Adam Smith, Karl Marx e Keynes. Não adianta expurgar algumas ideias sem ao menos conhecê-las. É preciso ler mais sem preconcepções unilaterais. Os três autores têm ideias que se espalharam mundo afora. O papel dos pensadores atuais e aperfeiçoar as ideias boas para os nossos tempos e traçar os rumos da nossa sociedade. Pode parecer um sonho, mas alguém precisa trazer isso para a realidade dos tempos modernos. A aplicação do modelo capitalista tradicional não se concede por razões que a história já contou. O Socialismo com viés comunista não se sustenta por razões que a história também já contou. Resta-nos experimentar uma coisa nova que ainda não conhecemos.
Sabemos que para a população ter uma saúde de primeiro mundo, segurança e educação, necessariamente não temos de adotar um modelo político-econômico. Isso é premissa básica em todas as correntes ideológicas. Vamos aglutinar o que é bom e vamos inovar, inclusive com a erradicação de políticos que já não nos representam. E isso não é tarefa difícil. É voltarmos ao pensamento de que podemos ter uma sociedade ética, coesa e amparada pela força de todos, não abrindo mão do bom caráter em nome de conceitos falsos de estabilidade econômica. Se atentarmos para um detalhe, o mundo está dividido entre capitalismo e socialismo. De um lado os poderosos, do outros os sobreviventes, cada um puxando o cobertor para cobrir seus pés, sem a preocupação com o frio dos outros. Se cada um ceder em suas ambições, encontraremos uma solução melhor para todos.
Conceitos como “mais valia” e “meritocracia” precisam de uma interpretação mais profunda. Se radicalizarmos num ponto apenas não teremos chances de uma solução satisfatória para todos. Vamos expurgar a servidão subserviente. Isso só interessa às mentes doentias. Vivemos tempos modernos, onde a sobrevivência é uma responsabilidade de todos.
José Ricardo é contabilista e servidor aposentado do Banco do Brasil