Desembarcando do combo das comemorações de fim de ano, estamos de volta ao cotidiano entediante, mesmo assim desafiador.
É incrível a nossa capacidade de interpretar cenários futuros com relação a cada renovação anual. Particularmente traço algumas metas, por vezes atingidas, mas na maioria não. Isso porque somos levados pelo sentimento de positividade emanada das “forças positivas” advindas das congratulações afetivas, quando “abrimos” nossos corações para neles desfilarem o amor, a compaixão, a piedade, o respeito, a consideração, a paz, quando tudo, como num passe de mágica, se transforma em sonhos possíveis de serem realizados.
No campo das relações pessoais o resultado aflora com a limpidez das águas cristalinas. Invariavelmente escolhemos o período natalino e de fim de ano para tentar dar um tempo aos nossos corações raivosos. Até que tentamos, mas tudo tem sido em vão. Tudo que pensamos por em prática nessas épocas festivas, não passam de tentativas frustrantes como se estivéssemos procurando aplacar as amarguras da alma. Alguns poderão achar exagero e que na prática isso não ocorre com eles, mas temos a percepção de que tudo que planejamos não se realiza em percentual maior que 1%. Isso ocorre por uma razão singela: o percurso da nossa existência não é controlado por uma chave de conversão automática, onde um simples click é suficiente para a mudança de rumos.
Somente conseguiremos realizar nossos planos quando formos capazes de transformações profundas da alma. O espírito natalino e de fim de ano deveria se instalar em cada um de nós de maneira perene, não efêmera como se não tivéssemos capacidade de amar sempre, e sim com um prazo de validade estupidamente prescrito numa bula repleta de incoerências.
Tudo isso não tira o brilho das festividades do Natal de do Ano Novo, para mim, as festas mais simbólicas e contagiantes que vivenciamos, não obstante as diferenças e desigualdades que teimam em se enraizar no nosso meio, que se revelam mais descaradamente nessas épocas, quando a ostentação e o exibicionismo atingem o pico de audiência, batendo todos os outros adversários de conotação negativa.
Na esfera religiosa assisti às reprises das mesmas incoerências, com cristãos defendendo o combate da violência com mais violência, esquecendo-se do mais novo mandamento do Cristo, que é: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Ah! Eu não sou Cristo, portanto não posso agir como Ele. Ora bolas meu caro cristão! Então você não entendeu “bulhufas” da mensagem no Divido Mestre. Você é um cristão faz de conta.
Quando o assunto é a violência, continuamos tratando segurança de maneira prosaica, com posicionamentos infantis e profissionais de gabinetes gélidos e confortáveis, como se a bandidagem estive disposta a trocar flores e beijos, e fazer acordos e concessões. Por outro lado temos a instituição Estado, a quem compete assegurar a integridade de todos, totalmente inepta, refém da bandidagem institucional que se instalou na sociedade e não dá sinais de fraqueza, por enquanto.
No terreno da política e da justiça é aonde detectamos a maior mazela do momento. O País se embrenhou num matagal denso de desmandos, crimes, acordos espúrios, safadezas, tudo sob o olhar complacente de um povo anestesiado e uma sociedade covarde e sem ânimo, pois já não sabe pra que lado vai. O Brasil está se acostumando com a corrupção sistêmica e já aceita “o ladrão que rouba, mas faz”, numa total letargia, preocupada que está com as briguinhas de quintal das ideologias político-econômica.
Não obstantes os aspectos negativos que predominam o presente escrito, mantenho acesa a esperança de que mudaremos esse jogo que assistimos no gramado enlameado dessa década, onde tudo parece normal, sob a visão de cada lado que adota a dicotomia dos absurdos, onde o objetivo é a supremacia de egos doentios.
2018 chegou! Junto com ele a oportunidade que colocam em nossas mãos de limpar as cadeiras imundas de um Congresso Nacional nefasto. Só depende de nós. Senão, tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes. Mais uma vez.