O isolamento necessário e inevitável nos convida a viajar e já podemos começar arrumando as malas, pois o destino já está escolhido: o interior. E aqui o interior em referência é mais do que conhecido não obstante raras as vezes que o visitamos. Viajar no interior de nós mesmos pode não proporcionar paisagens reais e virtuosas, mas, com certeza nos assegura cenários que nos fortalece e nos aprimora enquanto humanos. O “eu” interior é um lugar esplêndido para visitações, pois é nele que encontramos abrigo e explicações para as nossas inquietudes, e a partir daí começarmos a desenvolver a espiritualidade que nos alimenta de esperanças e compreensão.
Vamos viajar ao “eu” interior. Aproveitemos os efeitos externos devassadores da COVID-19 para tirar lições de vidas. Não que precisemos sempre de tragédias para nos realinhar na caminhada da vida. Nada disso! As tragédias que vivenciamos não devem servir para mudarmos posturas e sim embasar decisões que deveríamos tomar antes dos percalços que estariam por vir. Tudo que está ocorrendo nos recomenda que não precisamos de tragédias do gênero para agir como verdadeiros seres humanos, cujos propósitos de vida deveriam ser a harmonia e a boa convivência. Viajar, a partir de agora, ganha conotação mais subjetiva. Não que devamos deixar de fazer nossas viagens turísticas. Elas são legais e benéficas. Porém, precisamos ter outro olhar para as verdadeiras intenções de viagens turísticas quando podemos fazê-las dentro do nosso território. Concordo com a necessidade de massagem de ego vez em quando, afinal, postar fotos de Disney é chique e dá status. Não condeno, apenas comento. O tempo que dispomos atualmente dá para visitarmos várias estações da alma.
Comecemos então pela estação do amor ao próximo, ferramenta indispensável na convivência em sociedade. Não se concebe indiferença com os nossos semelhantes, quando os propósitos da nossa existência convergem para o bem estar. A estação do amor é base angular da nossa existência.
Próxima parada, estação da tolerância. Como somos ranzinzas nesse aspecto não? No nosso egoísmo doentio forçamos a barra para que o mundo tenha o nosso pensamento com relação a vários temas. Não aceitamos as pessoas com suas escolhas e pensamentos. Queremos sempre padronizar costumes, religiões, políticas, caráter, moralidade, e aí cometemos uma série de equívocos, pois dentro de nós pode estar impregnada uma raiz da mesquinhez, da arrogância, da truculência e do desamor, que afloram em momentos de conflitos dicotômicos. Não temos de concordar com estilos de vida, mas teremos de ter sabedoria e sensatez de saber conviver com eles e nunca querer impor a nossa verdade, que pode ser a nossa mentira mais escancarada.
Compremos um bilhete para prosseguirmos nossa viagem, e o destino é o amor incondicional e ágape. O amor, em suas diversas faces é a chave de tudo. A parábola do filho pródigo deveria ser a lição de cabeceira de todos, pois tendemos a buscar amar as pessoas “corretinhas”, que pensam como nós, que não cometem deslizes e que se alinham à minha estúpida lucidez, por vezes. Pratiquemos o amor dos verdadeiros pais que não estabelecem padrões de comportamento para amar os seus filhos. Os verdadeiros pais não estabelecem critérios de avaliação para que amem seus filhos. Se o fizer, não serão dignos da classificação de pais.
Enfim, o ambiente do isolamento nos aproxima das pessoas e elabora rascunho de atitudes e comportamentos que devemos seguir, afinal, chegamos ao estágio atual cometendo todo tipo de iniquidade e desumanidade, onde a prioridade pelo material tem sido a regra e o bem comum a exceção.
Chegaremos ao final da nossa viagem mais maduros e cônscios das nossas atitudes mesquinhas e inconsequentes, que nos colocaram num patamar preocupante de isolamento humano em aglomerados urbanos de uma sociedade materialista ao extremo.
Viajar é preciso!