Outro dia, o estupro coletivo, a exaltação ao torturador, e agora o massacre em boate gay, em Orlando, na Flórida, EUA. Também tivemos desrespeito a símbolos religiosos, a exemplo da cruz cristã, bem como execramos àqueles que declinam simpatia por determinado dogma religioso. Defende-se o Estado laico de maneira desvirtuada, com posicionamentos inadequados. Isso tudo não cabe nesse pequeno espaço e requer estudo aprofundado de autoridades no assunto, em conjunto com o governo e a sociedade.
O mundo está azedo. Sob a ideia de que deve haver liberdade de expressão e atos, todos querem regular o geral e liberar o individual. No entanto, isso não implica em respeitar a individualidade alheia. Sem falar na utilização das redes sociais para o desfile de mediocridades, postagens e expressões chulas, agressivas, inoportunas e de conteúdo imprestável. Tem gente que se acha dono do espaço. Tem alguns que ainda acha bonito e curte aberrações verbais, com o intuído claro de agredir posicionamentos moderados. Falar mal, proferir palavrões, humilhar tendências e particularidades, essa tem sido a tônica. Lamentável e desalentador.
Fico estarrecido com a inversão de valores que às vezes nos aterroriza. Voluntariamente tem-se criminalizado as vítimas de estupros e quase que inocentando os estupradores, com a ideia surreal de que as vítimas incitam os atos imorais e desumanos.
Não temos o direito de julgar, mesmo porque não conhecemos a realidade de certas áreas sociais. Estão tentando ditar regras de conduta, liberando atos criminosos se as regras não são cumpridas, na nossa concepção. Não consigo aceitar a ideia de que a exposição inadequada de corpos se constitua em salvo conduto para a prática desumana do estupro, sobretudo o coletivo. Não entra na minha cabeça essa situação. Não podemos aceitar que a negligência de postura autorize brutalidades contra o corpo de outrem.
Num outro patamar, queremos segregar a sociedade. A moralidade na política não deve passar necessariamente pela aceitação de retrocessos na convivência social. A ditadura já cumpriu o seu papel à época. Aceitar o regime militar ou seus simpatizantes, como a salvação da lavoura é uma ideia esdrúxula, principalmente para o nosso País que se diz viver uma democracia plena, o que não é verídico.
Ainda vivemos sob o estigma do machismo que não se retira de algumas mentes, da esquerda que radicaliza através de prosélitos vergonhosos, e da direita doentia que se vê dona da vida das pessoas. Aí, alia-se aos neoliberais, que sinceramente tem postura quase que indecifrável, não fosse a busca sagaz pelo entrega do nosso destino ao capitalismo centralizador, que expõe um quadro bem definido de quem deve ter os meios de produção nas mãos, a distribuir migalhas aos “famintos funcionais”.
Observamos desanimados que o mudo azedou. Querem ditar normas de conduta e aí se interfere em escolhas de opções sexuais, religiões, como se pensamentos distintos dos nossos não fizessem o menor sentido. Estamos azedos e intolerantes.
Estamos a defender a convivência em blocos, quando não em grumos segregados sem a menor lógica.
O preconceito impera. Homofobia, xenofobia, racismo, intolerância religiosa, esse amplo leque patológico está cada vez mais arraigado no nosso meio. Isso é lamentável sob o aspecto da convivência social, pois não gostamos que ninguém, sob pretexto algum, pode definir a nossa linha de conduta.